O dia, contrariando as previsões metereológicas, amanhecera ensolarado. No carro, desde a noite anterior, a bagagem estava devidamente arrumada. Barraca de camping, agasalhos, lampião, demais apretechos, comida enlatada, biscoitos e muita água.
A estrada que a levaria até as montanhas estava em péssimas condições e o carro também não ajudava muito. Esquecera de levá-lo à manuntenção. Em duas horas chega ao seu destino e lentamente sobe com a tralha em dois sobe-e-desce. Armada a barraca, come alguma coisa e deita-se no colchonete, adormece. Ao acordar um belo pôr do sol a espera e do alto da montanha chora compulsivamente. Desta vez não é um choro de encantamento. É desespero, arrependimento, sente-se dilacerada, como se cada célula de seu corpo estivesse contaminada e a lembrança daquela noite chega numa velocidade que quase a faz desmaiar.
- Ei meninos, não façam tanta bagunça! Viemos para nos divertir, mas a organização se faz necessária.
- Puxa mamãe, deixa, depois a gente dá um jeitinho. Pode acreditar.
- Tudo bem então. Vamos nos divertir! Que tal começarmos pelo parque de Itatiaia? Dizem que lá é lindo!
Os três saem juntos, alegres e ninguém saberia dizer quem era o mais criança, tamanha era a farra que faziam.
A felicidade permeava o caminho de mãe e filhos.
O tempo passa gostosamente até que cansados, resolvem voltar ao acampamento. Já se fizera noite e a estrada em péssimas condições assustava Soraya que disfarçava cantando a música preferida dos meninos " Vou deixar a vida me levar pra onde ela quiser" ...de repente são parados. Um carro barra-lhe a passagem e dois homens descem com pistolas e anunciam um assalto e usando de toda crueldade tiram todos do carro. Os meninos choram, ela tenta ficar calma, argumenta que nada possuem mas os vermes travestidos de seres humanos não a ouvem.
Levam-nos para uma cabana próxima e praticam todo tipo de atrocidades com os três.
Depois, vão embora.
Aterrorizados se abraçam e choram lágrimas de desespero, de vergonha, medo e impotência.
São tirados daquele torpor pelos relâmpagos seguidos de trovões e uma forte chuva que mais parecia um dilúvio.
Rezam baixinhos e abraçados. Não sabem o tempo que ficaram nessa posição com a chuva trazendo seus grossos pingos para a velha cabana.
Lucas, o caçula, pede num sussurro:
- Mamãe, não conta pra ninguém o que esses homens malvados fizeram com a gente, promete?
Lagrimas grossas lavam o rosto daquela mãe de alma dilacerada que nada responde e o outro filho, Emanuel, fala com voz entrecortada pelo choro:
- Deixa a chuva ser a única testemunha, por favor!
Saem da cabana abraçados e deixam que as águas vindas do céu lavem e levem para sempre a angústia que passaram.
Hoje os meninos são homens formados, casados e pais de lindas meninas. Nunca mais mencionaram a tragédia vivida nas montanhas. Em dias de chuva cada um se escondia dentro de si. Somente Soraya tivera coragem de voltar à montanha para esperar pela chuva que sabia demais.
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