quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Vou morrer? Vai!!

Seus passos eram lentos, olhar perdido, o colorido das vitrines já não lhe despertava atenção.
Imersa em seus pensamentos senta-se no banco em frente as escadas rolantes. Observava as pessoas e desejou ter um óculos escuros, por que nunca os tivera?
Assim poderia olhar sem ser vista, escondida que estava dela mesma, presa a uma angústia que não queria dividir com ninguém. Aquele shopping imenso e tão bonito fora o lugar que buscara para ter um encontro solitário com a multidão. Passos apressados, lentos, sorrisos tímidos, mãos dadas, abraços ,beijos, risos altos ,um desfiles de incógnitas.
Naquele momento tudo lhe parecia tão perto, tão distante, em câmera lenta reviveu a noite em que tudo começara.
Não conseguindo dormir e cansada de brigar com a cama, resolve ir para o sofá da sala e fica quietinha na esperança que o sono chegue. Perde a noção do tempo,  frio, estranho para uma noite quente, cobre-se,  na mesma posição,  silêncio que ela tanto gosta a incomoda,  uma angústia, uma sensação estranha, como se seu corpo saisse dela mesmo, sente medo, coração acelerado, começa a suar, descobre-se , conversa com Deus. O dia começa a despertar e ela não dormira um minuto sequer, os pássaros cantam, os raios do sol invadem a casa sinalizando um dia lindo.
Meio tonta entra no chuveiro esperançosa que o banho lhe traga um pouco de energia. Toma um café, não gosta muito, se arruma , vai ao médico e relata com maiores detalhes a noite de horror que passara.
Ele a ouve atentamente, examina-a, pede que faça alguns exames , lhe receita um tranquilizante e sorri quando ela, medrosa, lhe pergunta: Doutor, eu vou morrer? Vai!
Não agora, por favor, vá para casa, durma e assim que os exames estiverem prontos me procure.
Mesmo tomando a medicação receitada as noites continuaram insones, o humor instável. Exames prontos volta ao médico e dessa vez a consulta é longa, conversam bastante e por fim ele a aconselha a procurar um psiquiatra de confiança para dar ínício ao tratamento á depressão.


Quatro meses depois passeia tranqüilamente no mesmo shopping, seu olhar, agora é descontraido, seu sorriso vai de encontro aos passantes. São sorrisos tranqüilos de quem superou 80% daquela angústia. Com a ajuda de medicamentos e de poucos amigos com quem tivera coragem de dividir áqueles dias de sofrimento a vida segue num ritmo quase normal. Sabe que ainda está vulnerável, que precisa continuar o tratamento e não se furtar de aceitar a ajuda daqueles que a amam.

Aceitar que o problema existe e procurar ajuda deve ser o primeiro passo para combater essa doença paralisante, que aprisiona, que assusta, que tira o colorido da mais bela paisagem.
Feliz agradece aos poucos amigos que sabem e o muito que tiveram de paciência, carinho e amor. Sentir-se amada foi determinante para a sua melhora.

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